martes

Hilda Hilst ( Brasil,1930 – 2004) En memoria

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Te prometo, muerte,
La vida de un poeta. La mía:
Palabras vivas, fuego, fuente.

Hilda Hilst 



XVI


O que nós vemos das coisas são as coisas.
(Fernando Pessoa)


Las cosas no existen.
Lo que existe es la idea
melancólica y suave


que hacemos de las cosas.


La mesa de escribir es hecha de amor
y de sumisión.
En tanto
nadie la ve
como yo la veo.
Para los hombres
es hecha de madera
y está cubierta de tinta.
Para mí también
mas la madera protege su interior
pues su interior es humano.


Los libros son criaturas.
Cada página un año de vida,
cada lectura un poco de alegría
y esta alegría
es igual al consuelo de los hombres
cuando inquietos permanecemos
en respuesta a sus inquietudes.


Las cosas no existen.
La idea, sí.


La idea es infinita
igual que el sueño de los niños.

As coisas não existem. / O que existe é a idéia / melancólica e suave // que fazemos das coisas. // A mesa de escrever é feita de amor / e de submissão. / No entanto / ninguém a vê / como eu a vejo. / Para os homens / é feita de madeira / e coberta de tinta. / Para mim também / mas a madeira / somente lhe protege o interior / e o interior é humano. // Os livros são criaturas. / Cada página um ano de vida, / cada leitura um pouco de alegria / e esta alegria / é igual ao consolo dos homens / quando permanecemos inquietos / em resposta às suas inquietudes. // As coisas não existem. / A idéia, sim. // A idéia é infinita / igual ao sonho das crianças.

de Balada de Alzira (1951)






IV [fragmento]


A Vinicius de Moraes

En la hora de mi muerte
estarán a mi lado más hombres
infinitamente más hombres que mujeres.
(Porque fui más amante que amiga)
Sin duda dirán las cosas que no fui.
Como entonces con gran generosidad:
No era mal poeta la pequeña Hilda.


Tendré rosas en el cuerpo, en las manos, en los pies.


Son todos tan delicados
tan delicados…

Na hora da minha morte / estarão ao meu lado mais homens / infinitamente mais homens que mulheres. / (Porque fui mais amante que amiga) / Sem dúvida dirão as coisas que não fui. / Ou então com grande generosidade: / Não era mau poeta a pequena Hilda. // Terei rosas no corpo, nas mãos, nos pés. / Sei disso porque fiz um pedido piegas / à minha mãe: “Quero ter rosas comigo / na hora da minha morte”. // E haverá rosas, / São todos tão delicados / tão delicados...

de Balada do Festival (1955)






XIX


Si yo supiese
Tu nombre verdadero


Te tomaría
Húmeda, tenue


Y entonces descansarías.


Si susurraras
Tu nombre secreto
En mis caminos
Entre la vida y el sueño


Te prometo, muerte,
La vida de un poeta. La mía:
Palabras vivas, fuego, fuente.


Si me tocaras,
Amantísima, blanda
Como fui tocada por los hombres


En vez de Muerte
Te llamo Poesía
Fuego, Fuente, Palabra viva
Suerte.

Se eu soubesse / Teu nome verdadeiro // Te tomaria / Úmida, tênue // E então descansarias. // Se sussurrares / Teu nome secreto / Nos meus caminhos / Entre a vida e o sono, // Te prometo, morte, / A vida de um poeta. A minha: / Palavras vivas, fogo, fonte. // Se me tocares / Amantíssima, branda / Como fui tocada pelos homens // Ao invés de Morte / Te chamo Poesia / Fogo, Fonte, Palavra viva / Sorte.

de Da morte. Odes mínimas (1980)




VI


Hoy te canto y después en el polvo que he de ser
te cantaré de nuevo. Y tantas vidas tendré
cuantas me darás para otra vez amanecer
intentándote buscar. Porque vives de mí, Sin Nombre,
sutilísimo amado, relincho del infinito, y vivo
porque sé de ti tu hambre, tu noche de herrumbre
tu pasto es mi verso rociado de tintas
y de un verde negro tu casco en los arenales
donde me pisas hondo. Hoy te canto
y después enmudezco si te alcanzo. Y juntos
iremos a teñir el espacio. De luces. De sangre.
De sangre.

Hoje te canto e depois no pó que hei de ser / Te cantarei de novo. E tantas vidas terei / Quantas me darás para o meu outra vez amanhecer / Tentando te buscar. Porque vives de mim, Sem Nome, / Sutilíssimo amado, relincho do infinito, e vivo / Porque sei de ti a tua fome, tua noite de ferrugem / Teu pasto que é o meu verso orvalhado de tintas / E de um verde negro teu casco e os areais / Onde me pisas fundo. Hoje te canto / E depois emudeço se te alcanço. E
juntos / Vamos tingir o espaço. De luzes. De sangue. / De escarlate.

de Sobre a tua grande face (1986)




VI


Que las barcazas del Tiempo me devuelvan
la primitiva urna de palabras.
que me devuelvan a ti y a tu rostro
como lo conocí desde siempre: punzante
pero centellante de vida, renovado
como si el sol y el rostro caminasen
porque venía de uno la luz del otro.


Que me devuelvan la noche, el espacio
para sentirme tan vasta y poseída
como si aguas y maderas de todas las barcazas
se hiciesen materia rediviva, adolescencia y mito.


Que te devuelva la fuente de mi primer grito.

Que as barcaças do Tempo me devolvam / A primitiva urna de palavras. / Que me devolvam a ti e o teu rosto / Como desde sempre o conheci: pungente / Mas cintilando de vida, renovado / Como se o sol e o rosto caminhassem / Porque vinha de um a luz do outro. // Que me devolvam a noite, o espaço / De me sentir tão vasta e pertencida / Como se águas e madeiras de todas as barcaças / Se fizessem matéria rediviva, adolescência e mito. // Que eu te devolva a fonte do meu primeiro grito.

de Amavisse (1989)


*traducción  del poeta Leo Lobos (Santiago de Chile, 1966) 


Hilda Hilst, poeta, dramaturga e ficcionista, nasceu na cidade de Jaú no dia 21 de abril de 1930. Em 1948 entrou para a faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Em 1949 é escolhida para saudar, entre os alunos de Direito, a escritora Lygia Fagundes Telles, por ocasião do lançamento de seu livro de contos O Cacto Vermelho. Hilda lança, nos dois anos seguintes, seus primeiros livros: Presságio (1950), e Balada de Alzira (1951). Forma-se bacharel em Direito em 1952. Em 1959 publica o livro de poesia Roteiro do silêncio e Trovas de muito amor para um amado senhor. José Antônio de Almeida Prado, primo da escritora, inspira-se em poemas desse último livro e compõe a "Canção para soprano e piano". Recebe o Prêmio Pen Club de São Paulo pelo livro Sete cantos do poeta para o anjo, em 1962. No ano de 1966, muda-se para a Casa do Sol, uma chácara em Campinas, onde dedica-se em tempo integral à criação literária. Em 1969 escreve A morte do patriarca e O verdugo. Por este último, recebe o Prêmio Anchieta. A montagem de O rato no muro, sob a direção de Terezinha Aguiar, é apresentada no Festival de Teatro de Manizales, na Colômbia. No ano de 1977 é publicado o livro Ficções, que recebe o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), como "Melhor Livro do Ano". Foi agraciada, em 2003, pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), na área de literatura, com o Grande Prêmio da Crítica pela reedição de suas Obras completas. Hilda Hilst faleceu no dia 4 de fevereiro de 2004, na cidade de Campinas (SP).

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